Mesmo assim, a maioria das pessoas vai vivendo as mesmas rotinas, com a mesma mecanização e principalmente com os mesmos medos.
Parece que o medo é o nosso mais precioso instinto de sobrevivência. Sem ele poríamos constantemente a vida em risco. Portanto, ele é necessário e bom.
Eu tenho medo e por isso estou viva. Mas sempre luto contra o medo na medida em que ele, pela sua vastidão, me impeça de viver e me mantenha numa letargia de ver passar tempo sem ver que ele passa.
Então eu tento não ter medo de viver. Viver, viver mesmo, encher os dias de vida. Claro que é difícil porque a vida é mais feliz com os outros e por isso a nossa vida diminui na directa proporção da falta de vida daqueles que queremos por perto! Se eles não querem participar do acto de viver a vida connosco isso também limita o nosso esforço! Felizmente que podemos viver connosco, pelo menos às vezes podemos!
Cada atitude na vida tem uma consequência e o que tento é ter coragem para enfrentar as consequências. As pessoas que deixam passar o tempo sem o encher de vida, rendendo-se ao medo, não pensam que esta atitude também tem uma consequência, que para mim é a tristeza, o envelhecimento da alma, o peso da falta de propósito. Eu penso que essa consequência é mais dolorosa e difícil de enfrentar do que qualquer consequência, por nefasta que seja, de viver.
Mas há um medo que tenho, que em mim é quase paranóico - o medo de estar viva. Porque todos sabemos que a vida tem fases boas e más e que toda a vida acaba em morte. Não sabemos quando nem como mas sabemos, com certeza, que a dor virá e a morte também. Esse é o meu verdadeiro medo, o medo que decorre da ignorância sobre o quando e o como e ao mesmo tempo decorre também da consciência de que não há um se, não há dúvida.
Por isso eu gosto da frase de alguém que diz que o medo de viver não impede que os momentos infelizes aconteçam, apenas impede que vivamos os felizes.
Percebi então que, em mim, o não ter medo de viver decorre directamente do medo de estar viva.
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