22 de ago. de 2019

Submarinos ao fundo

Eu e o Diogo vivemos de várias cumplicidades. Há uma que ora nos irrita ora nos diverte, especialmente nos dias em que acordamos muito bem dispostos os dois - vejam a improbabilidade de isto acontecer muitas vezes ! - e tudo parece ter graça, até a destruição de sonhos !
Hoje é um dia divertido. Eu afundei-lhe um sonho como se fosse um submarino e ele não perdeu a oportunidade para fazer o mesmo, numa batalha naval infantil.
 Eu tenho uma forma romântica de ver a vida, uma forma que paira ao nível da ilusão, do etéreo. Cultivo essa visão porque sou mais feliz assim do que sou se encarar o mundo de forma realista - sendo que a realidade não está provado que exista ou possa mesmo existir, não passa de um conceito que já inspirou muitas reflexões filosóficas que, por o serem, não chegaram a nenhuma conclusão.
Já o Diogo é objectivo, não se deixa enganar com ilusões e vive aquilo que acredita ser a realidade. Parece que não é infeliz com isso. Talvez porque não crie grandes expectativas ? É uma possibilidade.

Passo a exemplificar como atiramos submarinos ao fundo:

Numa tasca/restaurante em Vila Real de Santo António - o Cuca, onde se come o melhor carapau frito do mundo (só igualado pelo de Aveiro no restaurante Telheiro), sentamo-nos num ambiente quente, húmido, com um cheiro intenso a peixe e rodeados de famílias espanholas que vociferam alegremente as suas conversas despreocupadas e triviais. Na interior uma foto de parede inteira mostra dois pequenos barcos tradicionais de pesca que, pelo nome, parecem pertencer a esta família.
Acho maravilhoso saber que pescam o peixe que vendem e comparo este restaurante/tasca com um outro na figueira da Foz, onde comemos várias vezes a melhor sardinha assada do mundo.
Esta minha romantização das circunstâncias em que comemos peixe é rapidamente abatida por uma visão realista que o Diogo, quase com pena, partilha comigo:
- João, a sardinha não pode ser pescada com aqueles barquitos. Além disso, o rapaz da Figueira não é pescador como tu pensas. Já trabalhou num barco de pesca e agora é um "janado" que não faz nada e a mãe trabalha que nem uma cadela a assar peixe para o sustentar.

Faço uma expressão de enfado embora divertida com as nossas diferenças e respondo:
- Porra, no fundo eu sei isso tudo mas guardo na gaveta da objectividade e torno o mundo mais belo romantizando-o. Que mal há nisso?


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