4 de mar. de 2017

Mais um testemunho de um povo emigrante

Madalena é professora. Trabalha em Inglaterra. Dizem que na 3ª melhor cidade para se viver em Inglaterra!? - Tunbridge Wells, Kent. O maravilhoso countryside. 

Eu que amo Inglaterra como se fosse o meu 3º país (sou retornada), oiço-a atentamente mesmo sabendo que cada palavra dela atinge mortalmente a minha imagem idílica daquele país e a admiração que tenho pelo seu povo.
Ela diz que felizmente vai e vem, que não vive lá e que nunca viveria. Diz que as crianças são mal educadas, que crescem sem regras, sem carinho. Tocar nas crianças é proibido. O sistema educativo é elitista e desenhado para criar ou manter castas. A passagem de um estrato social para outro é muito difícil, para não dizer impossível. Abro aqui um parentesis para dizer que estudos recentes têm demonstrado precisamente isto pelo que os ingleses têm perfeita consciência dos recuos que têm feito nesta matéria.
Os cursos profissionais não dão acesso à Universidade pelo que eliminam à partida um universo enorme de pessoas do caminho da progressão pela via académica.
O povo que vive no countryside tolera, literalmente tolera, os emigrantes mas apenas como trabalhadores, que devem obediência. A simpatia tem sabor a hipocrisia. Diz ela que estão a criar todas as condições para afundar socialmente.
Todos os serviços públicos são genericamente maus, até muito maus. O que é privado funciona bem mas custa muito dinheiro.
Diz que nunca passou tanto frio como em Inglaterra. Os autocarros são equipados com aquecimento que não é ligado para não gastar combustível pelo que o frio é insuportável. Os horários não são cumpridos e as paragens nem sequer são cobertas, quanto mais abrigadas.
A saúde pública é má enquanto a privada é óptima. Conta uma história a este propósito: uma doente no pós-operatório tem uma paragem cardíaca e é salva por um enfermeiro (português, claro!). 24 horas depois sente-se melhor e exige uma refeição de "fish and chips". O enfermeiro recusa e é admoestado. Em Inglaterra não se pode contrariar a vontade das pessoas, não se pode cercear o seu livre arbítrio. Portanto nem sequer o médico manda nada.
Outra história, noutro contexto: uma tia, portuguesa, num episódio em que abraça e beija a sobrinha de 6 anos, que lhe salta para o colo numa explosão de alegria por a reencontrar, origina um aviso sério do polícia que assiste à cena e a avisa que aquele comportamento pode gerar uma queixa e um processo de averiguações com base em suspeita de abuso de menores. Este episódio não nos pode surpreender assim tanto quando já vimos na televisão casos tão chocantes de crianças tiradas a famílias com base em suspeitas duvidosas e absurdas.
Este mundo está louco! A minha Inglaterra está doente!

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