15 de out. de 2016

A necessidade faz o engenho

Dona Arlinda não teve o "previlégio" de ir à escola e por isso não sabe assinar, mas trabalhou duro a vida toda e por isso recebe uma pensãozinha todos os meses. Quando ainda era o carteiro que a trazia ela tinha que "pôr o dedo" para ele lhe entregar as poucas notas com que se governava o mês todo e ainda conseguia dar umas prenditas aos netos de vez em quando.
Num desses dias de bom auguro em que aquele jovem chegava na sua mota, antes do almoço, mais ao menos por volta da hora do peixeiro, todo simpático, Dona Arlinda ficou assustada quando ele lhe disse que se esquecera da almofadinha para molhar o dedo. Aquela almofadinha era essencial para o seu alívio, o dinheiro do mês já tinha acabado e nem para o carapau que trazia o peixeiro, que já apitava ao fundo da rua, ela tinha tostão!
Aflita pediu por tudo ao carteiro que a ajudasse porque não podia passar sem a "féria" nem mais um dia. O carteiro, sensível à sua aflição lembrou-se que o escape da sua mota tem sempre uma foligem preta que talvez pudesse servir de tinta para a impressão digital que separava a D Arlinda do seu dinheirinho. Ela desconfiou daquela solução mas era assim ou a penúria! Aceitou e lá enfiou o delo na tubo de escape. O carteiro estremeceu ao ouvir aquele crepitar! Ooops! Na afã de ajudar D Arlinda nem se lembrara que o escape da mota estaria muito quente!! A senhora, com a dor estampada no rosto mas um sorriso de alívio nos lábios apressou-se a gravar a sua impressão digital no vale de correio enquanto o carteiro finalmente lhe passava o macinho de notas e lhe pedia desculpa pela ideia que tivera!
D Arlinda ainda agradeceu (!?) enquanto se apressou a acenar ao peixeiro que parasse, que queria um carapauzinho fresquinho para o almoço. No ar pairava um cheiro a peixe misturado com um cheiro de churrasco...






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