29 de mai. de 2009

E QUANDO TE CONFRONTAM COM AS TUAS CERTEZAS?

Ele entregou-me um papel, simples. Uma folha A4 com um texto mais ou menos curto e espaços para preencher. Importante - à mão!!!
Nas últimas semanas falei várias vezes com o R. sobre o assunto, sempre em tom mais de brincadeira do que sério. Ironizámos ambos sobre as diferenças de pensamento, sobre as opções opostas, sobre as incompatibilidades. No entanto, eu fui começando a ouvir elogios sobre a fortaleza do meu carácter, sobre a oralidade fluída, sobre a postura destemida, enfim, sobre tudo o que é bom de ouvir e afinal está acima ou para além de qualquer cor política ou orientação ideológica.
Um dia, inesperadamente (?) surgiu o convite.
Reagi com sarcasmo e até com desdém, embora, no fundo, tenha simpatizado com o desafio! Disse que não, que ele era doido. Mas o tom das minhas palavras traía-me...
Muitos me têm dito que na vida as coisas não chegam quando queremos e muitas vezes as oportunidades vêm travestidas de desconfortos e inconveniências.
Perante o papel simples que me entregou, cheio de espacinhos ávidos de saber mais sobre mim e de ver firmado o meu compromisso à mão...
Fiquei parada, sem reacção e sem palavras.
Pensei que realmente, se algo sai de nós através da escrita à mão, gera-se uma relação carnal e íntima entre o que escrevemos e o que sentimos. É um acto solene de compromisso.
Perante a crua realidade de um convite ao comprometimento, fiquei indecisa. Eu que tanto discurso em tertúlias e mesas de café sobre a necessidade do compromisso, de passar das palavras críticas à acção construtiva.
"- Dá-me dois dias....não... dá-me quatro. Tenho de consultar a família, os amigos, e a mim mesma em privado!!"
Que sim, que dava mas que já todos contavam comigo...
É verdade que ultimamente sinto uma inquietude por estar inerte, por ver passar a vida sem fazer nada, por viver e ser conivente com uma sociedade maioritariamente amorfa, adormecida e desesperançada.
É verdade que somos muitos a, no recreio semanal do fim-de-semana, reunidos nas esplanadas da moda, a acordar para apontar os dedos acusadores:
  • aos buracos na estrada,
  • às tampas de saneamento fundas,
  • à falta de estacionamento,
  • aos "polícias deitados" demasiado barrigudos,
  • às bermas baixas sem protecção,
  • às ruas sem passeio para peões,
  • à falta de iluminação,
  • à sujidade nas ruas,
  • aos ecopontos a abarrotar durante dias,
  • aos negócios a fechar,
  • aos métodos arcaicos de servir as comunidades (ou não servir!!),
  • à cegueira perante iniciativas interessantes,
  • à indiferença perante as opiniões das populações,
  • à falta de transportes,
  • aos esgotos a céu aberto,
  • aos cães abandonados nas ruas,
  • aos bueiros entupidos,
  • aos jardins descuidados,
  • às fontes decorativas, etc
O rol poderia continuar numa lamúria infindável de acusações anónimas, cobardes, pouco informadas e descomprometidas, como as que tenho feito grande parte da minha vida.
Mas que podemos nós fazer? a nossa sociedade está doente, egoísta, insensível, descrente, amorfa, corrupta. Que posso eu David perante o poder de Golias?
Vivemos nesta sociedade, sim. Mas há sinais de esperanças e muitas pistas animadoras que nos dão pessoas sábias e carismáticas:
Por exemplo, quem nunca reflectiu sobre a frase de Kennedy (que penso que foi copiada de outro presidente americano!?) "não perguntes o que o teu país fez por ti, pergunta o que podes fazer pelo teu país" (mais ou menos assim!!)
Por exemplo, quem não reflectiu sobre Martin Luther King "Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos."
Por exemplo Mahatma Gandhi, "Temos de nos tornar na mudança que queremos ver."
Por exemplo Obama quando gritou aos americanos e ao mundo "yes, we can". Parece uma frase simples mas tem uma carga enorme de esperança e uma força mobilizadora a que já não estávamos habituados neste mundo global.
Todas estas ideias fortes, inspiradoras, podem ser as nossas "armas de construção maciça" como diz Mia Couto.
Quem sabe se esta não é a minha oportunidade de me alistar no exército que se arma de ideias, de esperança, de ilusões conscientes, de vontade e compromisso para o trabalho. Talvez não sejamos assim tão poucos....
Vou pensar. Espero ter a sabedoria de tomar a melhor decisão.
ENQUADRAMENTO DO TEXTO: (talvez a única parte que interessa ler!)
Sou filiada no PSD e considero-me uma social democrata, liberal que acredita na livre empresa e na criação de oportunidades e condições de exercício do livre arbítrio. Não acredito no estado providência nem na subsidiodependência mas também não acredito no estado ausente. Acredito nas pessoas e na sua capacidade de autodeterminação.
Fui convidada pela CDU para cabeça de lista, como independente, para a junta de freguesia do lugar onde moro. Deram-me a liberdade de escolher a minha equipa independentemente da cor política. Há regras de convivência com o partido? claro.
É uma escolha incongruente e estranha? Talvez. Mas acredito realmente que no poder local o que contam são as pessoas e as ideias, as equipas e a dedicação. Os partidos são o mal necessário. São a manifestação concreta das regras do sistema. Acredito nas pessoas que entram no sistema para o mudar como o Marinho Pinto e Obama.
Este texto é um pedido de ajuda. ajudem-me a decidir. dêem-me ideias, opiniões, eu agradeço.
Para finalizar deixo duas músicas de Chico Buarque sobre o nosso 25 de Abril para que possamos reflectir. (são parecidas, não iguais porque uma é a versão original e aoutra é a censurada....)


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