São por demais evidentes as razões que fazem de Montemor um aglomerado de cariz medieval. De longe, vigilante e poderoso o velho castelo conserva a grandiosidade que fez dele uma das mais importantes fortalezas do período da reconquista cristã.
Apesar dos seus outros companheiros de atalaia na defesa de Coimbra, Soure, Penela, Lousã, Miranda do Corvo, ou aqui bem perto, Santa Olaya, de todos foi sem dúvida Monte Mayor que encantou e inspirou trovadores.
Ao seu redor, acolhia-se a população, qual filho que busca o aconchego do colo materno. Quando o perigo espreitava, guardavam-se os bens, saltava-se a cerca, procurando-se o refúgio do inimigo que ousava atravessar os verdes campos do Mondego.
Os tempos mudam e, lentamente, o homem sente que a segurança política lhe permite cortar o cordão que o prende ao seu Castelo. Espraia-se pela encosta, construindo as suas habitações, entrecortadas por estreitas e sinuosas vielas.
Quem percorrer estas vielas, respira tradição, história, memória dos antepassados. Como dizia Monsenhor Nunes Pereira, aqui até as pedras falam, é preciso é saber ouvi-las.
Vivificar esses tempos é um sonho que queremos concretizar, transformando Montemor-o-Velho numa vila histórica, convidando o visitante a viajar e a passear na história.
Mais do que justificados estão, pois, os motivos para realizarmos uma série de iniciativas referentes a este período, nomeadamente as feiras, as ceias, os torneios ou feitos de armas, a par de outras recriações teatrais e culturais que espelham o quotidiano de então.
O Castelo situa-se no alto de uma colina, isolado e destacado, com amplas panorâmicas sobre a região envolvente. Trata-se de uma fortaleza de planta irregular, alongada, respeitando a geografia do terreno. Constituído por castelejo, cerca principal, barbacã envolvente, cercado do lado Norte e reduto inferior ligado a este. O castelejo é um reduto feito pelo aproveitamento do espaço angular entre a torre de menagem e a cortina Norte. Classificado como Monumento Nacional, pelo Decreto de 16 de Junho de 1910 (Diário do Governo de 23 de Junho), é uma referência fundamental e de enorme importância para a vila. A ocupação humana deste local é, sem dúvida, bastante recuada devido à sua localização geo-estratégica privilegiada, não sendo de desprezar a existência neste lugar de uma atalaia romana. Da época visigótica há a informação de ter aparecido no castelo uma pedra de ornato bárbaro-popular. Também a passagem muçulmana deixou vestígios, como sejam uma coluna, capitéis e um fragmento de estuque (que deram entrada no Museu Machado de Castro de Coimbra). A primeira referência à fortificação remonta ao séc. IX, embora o alcáçar árabe deva ter origem no século anterior. Nesta altura, o recinto fortificado devia resumir-se a pouco mais que a actual zona do castelejo, na coroa da colina.
O célebre geógrafo árabe Edrisi refere-se a um castelo muito forte chamado Munt Malur, no século XII, altura em que a sua importância é acrescida devido ao processo da Reconquista. Em 990, Almançor tomou o Castelo, reconquistado, em 1006, por Mendo Luz. Em 1088 ou 1095, foi reedificado por Afonso VI de Castela. As partes mais antigas são a base da torre de menagem, onde se empregaram silhares romanos (eventualmente da alta Idade Média), as duas fortes torres junto à Porta do Rosário (poderão ser da época das Infantas), bem como os traçados do castelejo e da cerca principal.
No tempo da formação da nacionalidade, com os Castelos de Miranda, Penela, Soure e Santa Eulália, formava a cintura avançada do sistema defensivo da cidade de Coimbra, constituindo para os mouros o seu maior incómodo nesta região. Com efeito, o castelo mudou várias vezes de mãos, com as consequentes destruições, sendo definitivamente tomado pelas forças de Fernando Magno em 1064, aquando da tomada de Coimbra. Nesta conturbada época o castelo devia ser formado pelo castelejo e pela cerca principal. O recinto intra-muros é enriquecido no século XI com a construção da Igreja de Santa Maria da Alcáçova e, no século XII, do Paço das Infantas, que ficará para sempre ligado ao facto de aí ter sido decidida a morte de Inês de Castro.
A perda da sua importância geo-estratégica fez com que o castelo se fosse paulatinamente degradando. Em 1109, D. Teresa e seu filho, D. Afonso Henriques, teriam ordenando novas reformas no Castelo. Em 1210-11, deu-se a confirmação papal do legado do Castelo de D. Sancho I a sua filha D. Teresa. Nas lutas entre D. Afonso III e D. Sancho II esteve do lado deste. O Infante D. Pedro mandou-o ampliar com uma faixa de muralhas, pela encosta do monte até ao sopé, pelo lado Poente. O príncipe D. Afonso IV tomou-o na rebelião contra D. Dinis. No século XIV, o Castelo deve ter tido uma reforma geral, sendo provavelmente desta época a barbacã e o cerco Norte.
A 15 de Maio de 1875, Damião Luís de Carvalho comprou o cercado Norte (onde está a Capela de S. João) por 16$000 e em 1898 comprou cinco faixas de terreno dentro do castelo, entre a Porta de Nossa Senhora do Rosário e a Igreja de Santa Maria da Alcáçova. No ano de
Em 1936, realizou-se a reconstrução dos panos de muralha; em
Actualmente, a entrada no Castelo é feita pela Porta da Peste ou de Coimbra e era uma simples porta da barbacã, de arco rebaixado ou abatido, deve ser reforma dos séculos XV-XVI. Logo ao seu lado direito, o visitante depara-se com a grandiosa torre de menagem, quadrada, ligada ao muro e colocada no ângulo do castelejo, hoje, muito restaurada. Associada à torre de menagem está a chamada Lenda das Arcas que, segundo a tradição oral, estariam aqui enterradas duas arcas, uma com ouro e outra de peste, que ninguém jamais ousou procurar. Segue-se-lhe um muro com quatro torres, duas delas com aberturas em arco quebrado. Na cerca principal surgem mais cinco torres. A barbacã é um muro baixo, ameado, sem torres, que envolvia toda a fortaleza principal. Pelo lado Norte, em direcção ao vale, dois muros perpendiculares à muralha antiga, com adarves em degraus contínuos e terminando em fortes torreões angulares. A outra porta, que dá acesso à vila por ruas medievais extra-muros, é a de Nossa Senhora do Rosário ou do Sol, também simples porta de barbacã, de estilo ogival, tinha o adarve a menor altura e o pano em que se abre era menos extenso (destinada a servir só a barbacã). Nas ombreiras das duas portas ainda são visíveis os buracos em que rodavam as portas de carvalho, chapeadas de ferro e munidas de trancas.
Chegados ao cimo da avenida de calçada, um edifício ressai do panorama, a Igreja de Santa Maria da Alcáçova. É de invocação a Nossa Senhora da Assunção, que provem da associação que o povo devoto fez da antífona Ó Sapinentia... Ó Adonai..., introduzida pelo reforço do vocativo e cantada de
Foi mandada edificar em 1090, pelo Presbítero Vermudo (ele próprio afirmou que a ergueu desde os alicerces), por ordem do Conde D. Sesnando, com a condição de metade das rendas dela ficarem pertencendo à Sé de Coimbra, no tempo do Bispo D. Crescónio. Depois de concluída a igreja, foi lavrada a escritura de doação dessa metade que está datada de 24 de Dezembro de 1095.
Reza a tradição, que esta igreja foi trasladada de um monte, situado a noroeste da vila cerca de tres tiros de espingarda, onde se conservavam vestígios da Igreja de S. Gens. Um dos primeiros priores foi Turtusendo a quem sucedeu o presbítero Soeiro. Este exerceu o priorado durante 6 anos, deixando ao abandono as propriedades e a igreja (em que ruiu o tecto). Custou-lhe avultada indemnização, bem como a perda do padroado, restituído apenas a 22 de Julho de 1103 pelo bispo de Coimbra, D. Maurício Burdino, juntamente com a Igreja de S. João.
A igreja foi reedificada no primeiro terço do século XII e sagrada entre 1128 e 1131 (conforme consta na inscrição), no priorado de D. Sisnando, sagração realizada pelo Bispo D. Bernardo. Aquele prior deixou a Igreja da Alcáçova no momento da fundação do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde ele continuou a sua vida de fé. Em 1245, por deposição do rei D. Sancho II pelo Papa Inocêncio IV, o Bispo D. Tibúrcio, com alguns cónegos da Sé, sentindo-se pouco seguros em Coimbra, refugiaram-se na alcáçova do castelo e estabeleceram-se junto à Igreja. Por morte, D. Tibúrcio foi sepultado neste templo. Também aqui se reuniram os capitulares para elegerem o novo Bispo que lhe sucedeu: D. Domingos ou Mestre Domingos, também ele falecido nove meses após a eleição, sem que fizesse a entrada solene na catedral. D. Afonso III ordenou que os restos mortais de D. Tibúrcio fossem levados para a Sé Velha de Coimbra, em condigno sepulcro, mandado fazer pelo próprio soberano. Em recompensa, este monarca renovou a doação, ao Bispo D. Egas Fafes, do padroado que lhe competia tornando-a colegiada, que o transmitiu ao Cabido.
Este templo sofreu algumas reformas em 1285, como refere o testamento de João Guilherme Sancino. Foi reedificada definitivamente no primeiro quartel do século XVI, obra atribuída ao arquitecto Francisco Pires, sob a ordem do bispo-conde D. Jorge de Almeida, que aproveitou para as alvenarias o material da demolição, tendo-se empregado mesmo no primeiro arco à direita uma lápide fúnebre da Era de 1230.
No século XVIII, ainda tinha a irmandade do Santíssimo Sacramento e, como filiais, as vigararias de Reveles, Alfarelos, Santo Varão, Meãs e o curato do Seixo. Manteve-se igreja colegiada até à data da sua extinção, em finais do século XIX e detinha um pároco, 5 beneficiados e um tesoureiro. A igreja foi paroquial desde sempre, sendo a última consagração datada de 30 de Julho de 1874, por Decreto de D. Manuel Correia de Bastos Pina, que une as duas paróquias numa só: Santa Maria de Alcáçova e São Martinho, com sede nas duas igrejas.
O edifício sofreu obras pelo Ministério da Guerra e depois pelos Monumentos Nacionais (1933): empreitada no valor de 538.000$00, constando de trabalhos de consolidação de colunas, envernizamento de portas, vedações de caixilhos e reparações de janelas, colocação de grades de ferro de protecção na sacristia, etc. Em 1962 procedeu-se à reparação da cobertura e pavimento da Igreja; em 1963, colocação de portas e janelas; em 1969, restauro de cantarias da Igreja; em 1986 e 1994, obras de beneficiação.
Em termos arquitectónicos, trata-se de uma composição estrutural simples, com três naves de cinco tramos e três capelas absidais. Os cinco arcos de cada arcada são quebrados, quase equiláteros, simples e chanfrados. As colunas são de fuste formado por quatro colunelos em movimento helicoidal, à excepção do primeiro par, a contar da porta, em que são octógonos e direitos e as respectivas bases e capitéis mais simples.
A nave central encontra-se levantada, sem janelas acima das arcadas. A cabeceira tem uma composição complexa: arcos abertos entre as capelas laterais e a mor, em plano, dão a aparência de um transepto; pilares compostos, como sendo a reunião de quatro dos da nave e os três frontais têm a mesma composição de enrolamento das colunas. As três ábsides são semi-circulares, com as paredes externas em quase continuação das laterais das naves. A capela-mor e a colateral do Evangelho são cobertas de abóbada de berço e quarto de esfera, simples, sem arcos de reforço (românico condal do primeiro terço do século XII). Na parte curva da capela-mor, aparecem dois pequenos óculos com ornato flamejante. A capela da Epístola tem cúpula dividida em quartelas.
As paredes seguem em parte do comprimento da igreja o traçado antigo, podendo ter sido esta acrescentada cerca de dois tramos. Junto à parede da fachada há mísulas decoradas com folhagem. A frontaria apresenta porta de arco quebrado (ogival), de dois colunelos e breves capitéis, acompanhados de molduras finas, cujos perfis se continuam nos arcos. Sobrepõe-se-lhe um óculo pequeno (rosácea), de bastantes molduras concêntricas. Acima da porta crava-se o brasão de D. Jorge de Almeida.
O campanário é angular, com torre baixa, no cunhal direito, de quatro faces, que descem internamente até ao solo, com tambor saliente da escada de acesso. Primitivamente a torre tinha só duas faces do cunhal, entre as quais se crava o novo brasão daquele bispo.
A meio da parede direita do edifício, rasga-se a porta travessa, com arco em forma de sanefa, de influência mourisca, com monograma FP, encimada por outro brasão do mesmo prelado, com legenda. Tem duas janelas de cimo arredondado. A porta da sacristia é de verga lobulada e encontra-se na parede norte, junto ao absidíolo, quadra ampliada, conservando janela manuelina, de verga rebaixada.
Inicialmente, a capela-mor tinha um nicho ao fundo e um retábulo em pedra, semelhante ao da absidíola do Evangelho, que foi mutilado e destruído. Em sua substituição, foi aqui colocado um outro de talha barroca em data incerta, que pertenceu, originariamente, ao Convento de Nossa Senhora de Campos. Trata-se de uma estrutura arquitectónica composta por arco triunfal, com trono no interior (estrutura piramidal). Ornamentação rica e variada, traduzindo jogos de luz e sombra e perspectivas de avanços e recuos. Apresenta ainda motivos estufados de encanagem alternando com vazios do tom da pele. Encerra a imagem de Nossa Senhora da Vitória, no cimo do trono. As Memórias Paroquiais de 1758 fazem referência a algumas imagens que existiam no altar-mor (S. Bento, S. Mateus, S. Bartolomeu e S. Benedito), que desconhecemos o seu paradeiro. Faz ainda alusão à existência de uma capela (para além das três absidais), instituída por Maria de Brito, com Nossa Senhora da Assunção e o Santo Apostolado no altar e as imagens de S. José e S. Nicolau, que vieram de uma capela situada ao norte da vila e que se encontrava muito arruinada.
O retábulo situado na Capela lateral do Evangelho é dedicado a Nossa Senhora do Rosário. Tem três nichos com as imagens de Nossa Senhora do Ó, grande obra do Mestre Pêro do século XIV, Santa Apolónia e Santa Lúzia.
O Retábulo do Santíssimo Sacramento está situado na Capela da Epístola e é uma obra do século XVI atribuída à Escola de João de Ruão. Está dividido em dois andares de pilastras e colunelos, dispostos cada um em três panos. No de baixo o sacrário, em pedra, com delicados relevos e onde os anjos em adoração incensam o Santíssimo e pequenas arcaturas através das quais se vê a luz do sol, que entra por vidros encarnados duma pequena janela (ao lado as imagens de S. Pedro e S. João Baptista). Em cima, está representada a Última Ceia do Senhor (à esquerda está Iscariote com a bolsa na mão) ladeada pela aparição de Cristo à Virgem e a Madalena. Letreiro Eucarístico. No banco, os bustos do Rei David com a harpa e Melquísedec, com turíbulo e os pais da proposição. Deste lado está uma escultura de Santana ou Santas Mães.
Junto à Igreja de Santa Maria da Alcáçova vê-se a base cavada na rocha dum silo, com o revestimento interno. Há um outro ou uma cisterna no recinto do castelejo.
Saindo da Igreja pela porta principal, no lado direito, situa-se o cercado norte, onde está localizada a Capela de S. João. Existem referências a esta capela e ao prior Soeiro que a tinha com Santa Maria, de 1103. Está ligada a um poema épico do Abade João. A 11 de Março de 1251, Inocêncio IV expediu a Bula sua nobis, dirigida ao bispo de Viseu, para obrigar os priores de várias igrejas da diocese de Coimbra, entre elas a de S. João de Montemor, a pagar ao bispo as procurações que lhe deviam ratione visitationis. Era assim designada no Catálogo de todas as igrejas, comendas e mosteiros que havia pelos anos de 1320 e 1321 e a sua lotação era de
Consta ter sido mandada edificar, a primeira capelinha, pelo Abade João, sob a invocação de São João Evangelista, no local onde costumava entregar-se a penitência, sendo nela que este guerreiro celebrava as cerimónias de culto e instigava os habitantes de Montemor a combater os mouros. Tempos depois, esta capela teria sido arrasada, sendo construída outra no mesmo lugar mais tarde. Foi-se arruinando com o passar dos tempos.
É tradição que a primitiva Virgem foi exposta ao culto, nesta capela, em 848, depois da vitória do Abade João, dizendo ainda que era invocando o seu nome que os defensores do castelo combatiam: Cerra, Cerra, por Santa Maria da Vitória! - Clamavam os cristãos, ao manejar a adaga ou a lança, nas pelejas contra os mouros ou na defesa do castelo.
A provisão de D. João V, de 20 de Dezembro de 1746, que mandou que a Virgem Nossa Senhora, com o atributo de Vitória, fosse invocada como padroeira de Montemor-o-Velho, determinou também a reconstrução da capela. Em Maio de
A esta capela está associada a festividade em honra de Nossa Senhora da Vitória. Foi possivelmente em 1746 que se realizaram pela primeira vez estes festejos e a última a 10 de Agosto de 1863. Esta festividade prolongava-se por oito dias e nela participava o povo dos concelhos limítrofes e de vários pontos do País. Das festas fazia parte um simulacro de assalto: a praça da Câmara estava cercada por um palanque de seis degraus, em anfiteatro, tendo, do lado do Hospital da Misericórdia, um castelo, ocupado pelos cristãos; no lado oposto erguiam-se várias tendas de campanha, nas quais se encontravam os mouros e o rei. Iniciava-se o espectáculo com um passeio, pelo campo, de D. Ramiro e sua gente, todos a cavalo, o qual era feito prisioneiro pelos mouros, mas conseguia fugir para o castelo, que era logo sitiado, resistindo com dificuldades. Do lado mouro recebiam propostas para a sua entrega, sem que os cristãos acedessem. Começava então o fogo vivo de lado a lado e o Abade João incitava a que se combatessem os infiéis. Neste momento, os guerreiros abandonavam o castelo e iam ao combate directo. De repente, aparecia num nicho Nossa Senhora da Vitória e os mouros eram vencidos. Outro número da festa era constituído pela procissão para a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, na qual se incorporavam figurantes, representando os mouros prisioneiros, D. Urraca, irmã do Abade e os seus três filhos, estes com um risco encarnado em volta do pescoço.
Actualmente, está reduzida aos alicerces de plano rectangular. Em 1995, as paredes internas estavam revestidas com pinturas de motivos concheados da segunda metade do século XVIII. Em data incerta, o pórtico da frontaria da capela foi substituído por um lindo pórtico renascença que, apesar de estar em bom estado de conservação foi apeado no último quartel do século XIX e as suas cantarias aplicadas como pedras nas paredes de uma construção. Na mesma frontaria estava embutida uma sepultura, com inscrição romano-gótica, de Pedro Afonso, falecido no século XIII (provavelmente no Museu Machado de Castro). Por cima da sacristia ficava um campanário, com uma só sineta, as paredes interiores revestidas com pinturas a fresco, cujo desenho é de estilo Luís XV. O retábulo tinha três nichos e era de pedra. Na fachada do lado da Epístola, estava colocada a lápide comemorativa do lendário sucesso da degolação, local onde é tradição que ela se fizera e se operara o milagre da ressurreição. Esta lápide foi mandada colocar em 1713 pelo juiz de fora Gaspar Pimenta Avelar e pelos capitães Manuel de Mendenha e Agostinho Couceiro Portugal e ainda pelo alferes André Pessoa de Almeida.
No local onde nos encontramos é possível desfrutar de outras paisagens de referência que contribuem também para a singularidade desta região: a exuberante vista sobre os campos férteis do Mondego e a reserva natural do Paul da Quinta do Taipal. Este situa-se numa das digitações da planície aluvial do Mondego, na margem direita entre Quinhendros e a Quinta do Cano, que foi outrora ocupado com orizicultura. Corresponde, actualmente, a uma área de alagamento por não ter drenagem devido às obras do vale do Mondego, constituindo, por isso, um paul sempre alagado. É uma área de antigos campos de arroz, com cerca de
No lado oposto ao da Capela de S. João, vislumbram-se as ruínas de um edifício que outrora foi palácio. Referimo-nos ao Paço das Infantas. Atribui-se a D. Urraca, mulher de D. Raimundo, a sua edificação e aqui habitaram infantas, reis e rainhas, nomeadamente as Infantas D. Teresa, D. Branca, D. Sancha e D. Mafalda, D. Afonso III, D. Afonso IV, a Rainha Santa Isabel, os cavaleiros da Ordem do Templo que abandonaram o Castelo de Soure, os ministros de D. Afonso IV, D. João I, D. Manuel I, D. João III, Infante D. Pedro, D. António Prior do Crato e alguns dos alcaides.
Sofreu a sua última reforma na época manuelina, avançando sobre a linha da barbacã. Nos primórdios do século XX, visava-se uma janela manuelina com vestígios da coluna central e de cantaria rendilhada e, nos anos 40, sob alegação de ameaçar ruína, demoliu-se o que restava da velha residência senhorial, onde D. Afonso IV cedeu à pressão dos seus ministros e, como já referimos, ordenou a morte de Inês de Castro.
A descrição deste edifício é, actualmente, muito difícil de realizar porque, por um lado, restam apenas partes de algumas paredes, por outro, existem poucas referências documentais, encontradas até ao momento, respeitantes à sua constituição. É, sem dúvida, de origem medieval e possuía alguns elementos manuelinos. Localizada na parte sudeste das muralhas do castelo, tinha a fachada sobranceira à vila, de arquitectura rica em ornatos e ameias góticas, onde se rasgavam algumas janelas, uma das quais manuelina. Em 1906, apresentava ainda vestígios de uma coluna central e cantarias rendilhadas, tendo sido entretanto demolidas por ameaçarem, com um desmoronamento, as casas que ficavam na encosta do monte. Assim, restaram alguns fragmentos informes de paredes em ruína, que se mantiveram até aos nossos dias.
Chegado às ruínas da velha alcáçova, onde outrora a Castro foi sentenciada, é tempo do visitante efectuar uma pequena pausa no seu percurso para usufruir da bela paisagem e saborear as Lágrimas de Inês, na Casa de Chá O Paço das Infantas. Este doce foi especialmente concebido por Cacilda Craveiro Correia, do Café Pastelaria A Pousadinha, no âmbito das actividades do Centro de Estudos Inesianos, de que adiante falaremos.
Com o projecto da autoria do Arquitecto João Mendes Ribeiro, a Casa de Chá ocupa a parte central das ruínas do Paço das Infantas, numa edificação leve, tornada perfeitamente inóqua pelo modo geometrizado como se solta das paredes das referidas ruínas.
Essa edificação é marcada por alguns elementos maciços, a saber: dois planos horizontais substancialmente fortes – cobertura e pavimento – unidos por um paralelepípedo cromaticamente distinto, que corresponde às áreas de serviço da Casa de Chá. O pavimento prolonga-se a sudeste num estrado em madeira tratada, que constitui a esplanada. As paredes são em vidro simples, modulado e liberto de prumos de caixilharia, com excepção das portas que assim ficam marcadas por aro e caixilho de ferro. A Casa de Chá engloba os sistemas de infraestruturas de climatização, bem como as instalações sanitárias e a copa.
Aqui sentado, interroga-se o viajante do significado de uma altaneira janela que o tempo conserva incólume do antigo Paço das Infantas. Trata-se da janela dos namorados, de onde, segundo a tradição, D. Pedro chorava a saudade de Inês no local onde fora condenada.
Saindo do Castelo pela Porta da Peste e contornando parte da muralha exterior para o lado da vila, entramos no Caminho de Santo António.
Ao longo da barbacã Sul, ligando as duas portas actuais do castelo, desenvolve-se o Caminho de Santo António ou da Madalena, privilegiado miradouro sobre os campos, casas e típicas ruelas da encosta nascente de Montemor. O seu nome advém de nele se encontrarem as igrejas (infelizmente hoje arruinadas) de Santo António (construída em 1500 e reconstruída em 1881) e da Madalena (que já existia no séc. XIII).
Descendo ao povoado, o primeiro edifício que o viajante encontra, do lado direito, é a Igreja de Santa Maria Madalena. De origem medieval, já existia em meados do século XIII. A freguesia de Santa Maria Madalena já existia em 1251, pois nesse ano, a 11 de Março, expediu Inocêncio IV a Bula Sua Nobis, dirigida ao Bispo de Viseu, para obrigar os priores de várias igrejas da diocese de Coimbra, entre elas as de Santa Maria Madalena, S. Salvador e S. João a pagar ao bispo as procurações que lhe deviam ratione visitationis.
Foi uma das duas igrejas (a outra S. Miguel) cujo padroado D. Manuel I ressalvou da doação de Montemor-o-Velho ao príncipe D. Jorge, em 1500. Era da Coroa Real, teve priorado e anexo o hospital com o mesmo nome, para o tratamento de raparigas honradas e solteiras. Paulo III concedeu ao Conde de Tentúgal, D. Rodrigo de Melo, duas terças partes dos frutos da Igreja. O bispo de Coimbra, D. Manuel de Meneses, foi seu prior e, depois de bispo, sagrou-a. Foi sede duma das antigas paróquias da Vila e rendia, no princípio do século XVIII, uns 200$000 réis anuais. Também aqui funcionou a Irmandade de Nossa Senhora da Piedade, com compromisso de 1574. Encontra-se abandonada e arruinada desde finais do século XIX. Na última década desse século, apesar da paróquia estar extinta, os mortos eram enterrados dentro da igreja e no adro, de parceria com o cemitério da Borralha, a Alcáçova e S. Martinho.
Este edifício modesto encosta-se à barbacã sul do Castelo. Do que resta, podemos observar a porta principal, simples, sem impostas e arestas chanfradas, com arco quebrado equilátero, do século XV. No lado esquerdo da frontaria foi colocado um campanário manuelino, de duas ventanas grandes e uma pequena no vértice, com esferas, que também decoram a cimalha da empena. A sul, a porta travessa é rectangular e chanfrada, cravando-se sobre ela uma cabeceira de sepultura, discóide, com cruz floreada. No interior, em frente a esta, há uma mísula de ornatos em cordas, manuelina, trabalho popular. Na esquina da capela-mor, havia uma lápide romana dedicada a Júpiter (I. O. M. - Iovi Optimo Maximo).
Em 1758, era descrita como sendo uma igreja de nave única, com três altares. No altar-mor encontrava-se o Santíssimo Sacramento e as imagens de Santa Maria Madalena, São Sebastião e Santo Estêvão. Num dos altares colaterais, estavam as imagens de Nossa Senhora da Piedade, São Mateus e São Brás. No outro altar colateral, encontravam-se as imagens de Santa Luzia, Santo António, São Matias, Santa Catarina, Santo Antão e Santo Amaro. Desconhecemos o paradeiro destes altares e imagens.
Um pouco mais à frente depararmo-nos com novo edifício religioso, a Capela de Santo António, situada junto à torre do relógio e interceptada pela linha da barbacã. Na opinião de Correia Góis, a sua edificação data de 1079, por ordem de D. Sisnando, Governador de Coimbra. Funcionou como primeira matriz da freguesia do Salvador e ali foi sepultado o famoso Guterres Pais, ilustre fidalgo que viveu e reformou Montemor-o-Velho na época da reconquista cristã e repovoamento. Sofreu reformas no século XVI (há autores que afirmam que foi edificada nesta altura) e ainda no século XIX (1881), perdendo o seu carácter primitivo.
Na década de 1930, os Monumentos Nacionais levaram a cabo obras de recuperação em Montemor-o-Velho, tendo sido determinado, a 16 de Junho de
Apresenta planta de nave única com três capelas. Do que resta podemos observar a fachada, simples com pináculos, constituída pela porta principal, encimada por uma janela e uma inscrição. No interior, permanece um arco de volta inteira, despido de ornamentos. As Memórias Paroquiais de 1758 referem a existência no altar-mor das imagens de Santo António, São Francisco e São Jerónimo; num dos altares colaterais, a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso e, no outro, São Mateus. Desconhecemos o seu actual paradeiro.
Outro ponto de paragem inevitável será o Quarteirão das Artes. A Cooperativa de Serviços Culturais Teatro dos Castelos CRL de Montemor-o-Velho, fundada em 1991, tem como objecto principal a realização, produção e promoção de actividades culturais. A sua sede é, junto à Porta do Sol do Castelo de Montemor-o-Velho, no Bairro da Alegria, lugar onde se situa também a Galeria Torre do Relógio, seu primeiro espaço de exposições. Como laboratório teatral, utiliza sobretudo o teatro de bolso da Escola Secundária de Montemor-o-Velho, por protocolo com este estabelecimento de ensino.
Constitui seu grande objectivo, o de atingir o lançamento das bases de uma escola informal de artes, desenvolvendo a vertente formativa e interdisciplinar através de programas diversificados, dinamizando a Galeria Torre do Relógio, a Oficina e outros espaços do Quarteirão das Artes.
Entrando pelo Centro Histórico, descem-se ruelas estreitas, becos e escadinhas que vale a pena percorrer devagar. A próxima paragem será a Igreja Matriz de São Martinho. Segundo a lenda, no século IX, fundou-se um convento beneditino de São Martinho pelo Abade João do Mosteiro do Lorvão ou pelo Padre Arhgar, construído, provavelmente, no local onde se encontra a actual igreja, que teria sido sua capela. Data de
A 1 de Setembro de 1239, o bispo de Coimbra, D. Tibúrcio e D. Teresa travaram uma contenda pela posse da igreja, arbitrada e solvida após intervenção dos crúzios de Santa Cruz de Coimbra. Em 1285, o cónego da Sé de Coimbra, João Guilherme Chancino, deixou em testamento verbas para se levantar a igreja. Deve tratar-se da reconstrução e não de edificação. Em 1286, D. Dinis doou o Padroado das igrejas da vila a sua irmã D. Branca. Em 1355, D. Afonso IV doou a Igreja de São Martinho ao padroado do Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. Em 1357, D. Pedro I confirmou a doação. Em
No século XVI, foram executados os altares laterais da igreja e o túmulo de Luís Pessoa, cavaleiro da Casa Real, falecido em 1531 e de sua mulher e sobrinha D. Mécia Quaresma Costa falecida em 1524 / 1529. De 1596 é o túmulo de Diogo Zuzarte já no altar de Santa Luísa. Em 1715, Manuel Pessoa de Sá e Cunha, fidalgo da casa do Rei, era administrador da capela de Santa Catarina. Nesse ano existia ainda a capela dos Pinas que pertenceu primeiro a Afonso Briam. Em 1860, foi construído o portão de ferro no adro da igreja.
Em 1880, segundo uma lápide na fachada Oeste, fizeram-se reformas na igreja (não confirmadas porém em Diário do Governo). Ter-se-ia, então, alterado a fachada principal e o interior (arco cruzeiro, elevação do pavimento da igreja que se encontraria ao mesmo nível do baptistério); construção da torre sineira; pintura do retábulo-mor e das imagens do retábulo lateral Norte. Em 1923, o Prior Augusto Nunes Pereira põe a descoberto o arcossólio e a estátua jacente que se encontravam revestidos de pedra e cal.
Em termos arquitectónicos, trata-se de um templo com planta longitudinal composta, nave única, capela-mor rectangular com torre sineira quadrada adossada a Este e sacristia a Norte, baptistério a Norte da nave. A fachada principal apresenta pano único definido por parastáticas munidas de plintos e ábacos moldurados rematados por urnas. O portal é rectangular e é encimado por um janelão rectangular, central, de jambas prolongadas abaixo do peitoril moldurado em frontão recortado invertido. Sobre a verga está uma lápide de pedra com inscrição. O remate é em frontão de lanços arquitravado coroado por cruz de Cristo
O interior apresenta-se como um espaço diferenciado iluminado pelo janelão da fachada Oeste e pela janela que ocupa toda a largura do 4º tramo a Sul. A nave é de 8 tramos rectangulares definidos por arcos torais de volta quebrada descarregando em pilares de secção quadrangular adossados aos muros munidos de ábacos continuados pela cimalha.
Nos dois primeiros tramos da nave localiza-se o coro-alto, de madeira e varandim de balaústres, com acesso por escada. O arco triunfal de volta perfeita e os altares laterais são de pedra; o retábulo-mor é de madeira com portas de comunicação para o muro fundeiro da capela onde se vê fresta ogival entaipada. Está classificada como Imóvel de Interesse Público.
O Solar dos Alarcões encontra-se, pois, em fase de preparação e recuperação, para a instalação da Biblioteca Municipal. As primeiras notícias sobre o local onde se encontra implantado o Solar dos Alarcões datam de 1498, através de uma compra feita por Diogo da Fonseca Andrade (descendente de Fernando Alvares de Andrade, escrivão da Fazenda e tesoureiro de D. João III). Em 1557 ou 59, aparecem referenciadas umas casas como fazendo parte do vínculo instituído por Gaspar da Fonseca Andrade e Dona Leonor de Mascarenhas. Em 1684, foi lavrado um contrato entre Thomé Chichorro e Gaspar da Fonseca que demonstra que parte do beco que existia a nascente pertencia à casa.
Foi por ordem de D. Maria do Ó Osório Cabral Pereira Forjaz de Meneses (viúva de D. José de Alarcão Velásques Sarmento Osório) que, em 1870, foram iniciadas as obras de reconstrução do solar. Esta família passou a estar ligada com a dos Andrades desde o casamento de D. Tomás Velásques Sarmento de Alarcão, fidalgo da Casa Real e Comendador e Alcaide de Casével, com D. Leonor Inês de Castro, filha de Domingos Correia da Fonseca e de sua mulher Maria de Melo Fonseca, filha de Jacinto da Fonseca e Andrade.
D. José de Alarcão Velásques Sarmento Osório era descendente de D. João Velásquez de Alarcon, nobre espanhol que no tempo de D. Sebastião veio para Portugal e foi o primeiro dos Alarcões a viver em Montemor-o-Velho, pois a linha descendente da família encontrava-se anteriormente estabelecida no Espinhal, desde D. Manuel Caetano Velásques Sarmento de Vasconcelos.
D. João de Alarcão nasceu nesta localidade e era filho herdeiro de D. Maria do Ó tendo mandado construir, em 1889, um celeiro e um depósito para pipas de água e vinho, no lugar onde existia um celeiro
Em 1913, D. João de Alarcão ordenou a construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição, anexa ao solar, em Montemor-o-Velho, bem como a realização de melhoramentos na casa de habitação. Morreu a 11 de Setembro de 1918 em Montemor, onde se encontra sepultado. Foi seu sucessor na vila, D. Luís de Alarcão Velásques Sarmento.
Em finais da década de 60 do século XX, o solar foi votado ao abandono até ser definitivamente desocupado. Em finais da década de 70, o edifício foi alugado aos Serviços Hidraúlicos do Mondego. Em 1985, o imóvel foi vendido por Maria da Conceição Ponces de Alarcão Velásques Sarmento Lopes da Silva a Deolindo Azevedo Correia, que o vendeu em 1988 à Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho. Desocupado desde a saída dos Serviços Hidráulicos e em avançado estado de degradação, foi adquirido pela Câmara Municipal de Montemor-o-Velho em 1992.
Trata-se de um solar urbano, do final do século XIX, brasonado, num tipo corrente na província, de grande fachada simétrica bem fenestrada, com frontão triangular subido, ao centro,
O corpo central apresenta, no primeiro piso, um portal relativamente simples com enquadramento de cantaria e flanqueado por duas janelas com gradeamento de ferro forjado. No segundo piso, possui três janelas de varanda de sacada. A cornija que demarca o frontão é interrompida, no topo, por uma chake saliente trabalhada (semelhante a uma pluma). Um pouco mais abaixo está o brasão, que entretanto caiu, que estava numa posição central e um pouco acima relativamente às duas janelas do sotão. As pilastras que demarcam os corpos da fachada terminam, também, superiormente com chakes: as exteriores são semelhantes a grinaldas e as interiores semelhantes a liras.
Na fachada posterior do edifício rasgam-se oito janelas no primeiro piso. No rés-do-chão existem mais três janelas, a porta da cozinha e três janelas de sacada. Um pequeno muro adossado e perpendicular à casa, separa a porta e a janela da cozinha. Na cobertura, esse espaço da cozinha manifesta-se pela chaminé. O muro, que continua curvando para a direita até atingir o muro limite da propriedade, esconde ainda um pequeno pátio (zona de serviços, onde estão uns galinheiros). Todas as janelas e portas do tardoz são emolduradas tal como na fachada exterior. As janelas do rés-do-chão (excepto a da cozinha) têm gradeamento (grelha reticulada).
O interior do edifício era muito rico, com móveis trabalhados embutidos nas paredes, centros trabalhados de alguns tectos, átrio em calçada e outros elementos decorativos, quase todos desaparecidos.
A Capela é de pequenas dimensões e planta rectangular. Os perímetros laterais da fachada exterior são demarcados por uma pilastra de cada lado. A porta, de madeira, é também emoldurada. Ao cimo está o brasão de família e no lado direito, o sino. Um vitral, no tardoz, deixa iluminar o interior da capela. Imagens pias estavam colocadas no altar. A fachada lateral esquerda tem uma pequena janela. Está classificado como Imóvel de Interesse Municipal.
Já na parte baixa da vila, sugere-se que o viajante oriente o seu olhar para o Solar dos Pinas, actualmente, propriedade da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho. O portal pertence ao Solar da família Pina, de onde se destacam as figuras de Fernão de Pina e Rui de Pina. Fernão de Pina (século XV- século XVI) foi o filho mais velho de Lopo Fernandes de Pina e de D. Leonor Gonçalves. Herdou de seus pais a casa de Montemor-o-Velho, foi fidalgo do Rei D. João II e comendador do Vimieiro, na Ordem de Santiago. Em 1481, com Rui de Sousa e João Elvas, fez parte da embaixada enviada por D. João II ao Reis de Inglaterra, Eduardo IV, para conseguir que este monarca proibisse a partida para o golfo da Guiné de uma armada organizada pelo duque de Medina Sidónia.
Em 1497, foi encarregado por D. Manuel I de redigir a reforma dos forais. Nesta exaustiva tarefa, que implicou a substituição dos forais antigos por outros mais consentâneos com a época, Fernão de Pina teve a colaboração de Rui Boto, João Façanha, Diogo Pinheiro, João Pires, Brás Neto, João de Faria, Luís Eanes, João Cotrim e Pêro Jorge, entre outros.
Faleceu entre 1521 e 1524. Os seus ossos estão depositados na Capela da Senhora da Piedade, na Igreja do Convento dos Anjos, onde se encontra gravado o seguinte epitáfio: AQVI IAZEM HOS OSSOS DO MVI NOBRE FIDALGVO FERNAO DE PINA QVE PER SVE SABER E MERECIMETOS TEVE NESTES REIGNOS DE PORTVGAL CARGVOS MVI HOMRADOS MAODOV-HOS AQVI POR A MVI VERTVOSA SRA MOR TEIXEIRA SVA MOLHER NESTA CAPELA QVE ELA MAODOV FAZER E A DOVTOV DE CERTOS BEES PERA NELLA SE DIZERE CERTAS MISAS
Rui de Pina (1440? -1518/22) foi escrivão, notário público, diplomata e cronista dos reinados de D. João II e D. Manuel I. Foi o terceiro filho de Lopo Fernandes de Pina e de D. Leonor Gonçalves. Mostrou desde muito cedo gosto pelo estudo da história sagrada e profana. Homem de grande capacidade de acção, mereceu a confiança de D. João II, que o encarregou de várias missões diplomáticas. Presenciou na sua Corte aos grandes acontecimentos do seu governo e assistiu à execução do duque de Bragança e à morte do Rei. Foi incumbido de escrever as crónicas do Reino, em comissão, uma vez que o cronista oficial era Vasco Fernandes de Lucena. Ao subir ao trono, D. Manuel não só lhe confirmou as mercês de D. João II, como lhe fez novas. Foi ele quem o nomeou cronista-mor do Reino, com 1200 réis anuais, sendo também nomeado guarda-mor da Torre do Tombo e da Livraria Real, cargos que manteve até à sua morte e em que lhe havia de suceder o filho, Fernão de Pina.
Com o seu nome correm as crónicas de D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II, D. Afonso III, D. Dinis, D. Afonso IV, D. Duarte, D. Afonso V e D. João II. A autoria destas crónicas tem sido alvo de discórdia entre os historiadores porque alguns afirmam que se trata de cópias e recompilações feitas por Rui de Pina. Apenas a de D. João II é, consensualmente, atribuída a este cronista-mor.
Entre os descendentes encontra-se Lopo Fernandes de Pina que veio a casar em Montemor-o-Velho com Leonor Gonçalves, filha de Pedro Gonçalves, cavaleiro-vassalo do rei D. João I e mulher Maria de Góis. Este fixou residência em Montemor, construiu uns grandes passos cercados e coroados de ameias. Segundo alguns autores, tratou-se de uma cópia do solar dos Pinas, em Espanha (Aragão), demolido em finais do séc. XVIII. O actual solar foi restaurado por Francisco de Pina e Sá, no século XVIII, descendente das família dos Pinas.
No início do século XX, talvez no âmbito de mais uma empresa de obras, foram pintadas nas paredes de uma sala nobre da casa paisagens representativas desta região. Hoje, este edifício encontra-se profundamente alterado, fruto de diversas reformas e acrescentos, mantendo-se, provavelmente, para além do portal, o muro ameiado.
Em termos arquitectónicos, o Pórtico é constituído por porta de verga curva e cimalha sobrepujada por concha, enquadrada por duas colunas dóricas em frente de pilastras colocadas
Designada em tempos passados de Praça de D. Carlos e de D. Manuel II, a actual Praça da República constitui uma forma urbana alterada no século XIX, pela construção do actual edifício dos Paços do Concelho. O primitivo, até há pouco tempo desconhecido, consta no Tombo de Bens de Raiz da Câmara Municipal, elaborado em 1725, documento importante para a história do Município de Montemor-o-Velho. Trata-se dos autos de medição e demarcação do edifício dos Paços do Concelho e da chamada Praça Pública, designada actualmente pela Praça da República.
Quanto ao edifício dos Paços do Concelho, já desaparecido e pouco conhecido, ficamos a saber que se localizava na praça e era constituído por dois pisos, tendo no superior a casa da audiência, casa da câmara, casa do carcereiro e uma prisão; no inferior situavam-se três prisões, duas para os presos perigosos e uma para as mulheres, e o açougue.
No que diz respeito à Praça, é possível verificar que ela era de planta irregular, onde se encontrava o edifício já referido, bem como o Hospital de Nossa Senhora de Campos, o celeiro pertencente a Luísa da Costa Barreto, um chafariz, a estalagem de Manuel da Vitória e uma propriedade do Ducado de Aveiro.
Actualmente, a Praça é um espaço marcado pelo edifício da Câmara Municipal, tendo no alçado contrário a Galeria de Exposições (com a readaptação do Mercado Municipal); no topo Este a Associação Fernão Mendes Pinto e no topo Poente o antigo Hospital de Nossa Senhora de Campos, actualmente a funcionar como Lar de Terceira Idade.
Chegado à Praça da Republica, é tempo do viajante saciar o seu apetite, podendo optar por alguns restaurantes limítrofes, saboreando alguns manjares que a gastronomia local lhe oferece.
No final, sugerimos que adoce esta sua viagem com as espigas de Montemor, com as queijadas e pastéis de Tentúgal que poderá encontrar em frente dos Paços do Concelho.
A Igreja da Misericórdia de Montemor-o-Velho está classificada como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto N.º 37728, de 05/01/1950. É obra do fim do século XVI, tendo sofrido reformas na segunda metade do século XVIII (a que talvez corresponda a data de 1761 do lavabo). Voltou a ser reformada no último quartel do século XIX (1873), quando era provedor o Reverendo Augusto Pereira Cardote.
Apesar de não existir qualquer informação relativa ao início das obras sabemos, através do cronista montemorense António Correia da Fonseca e Andrade, que, em 1715, existia no pórtico da igreja uma pequena tarja, com a data do fim da obra - 1555. Edificada na entrada sul da vila, este templo confrontava a norte com a vala que atravessava a vila em todo o seu comprimento e a sul com o rossio onde se realizavam as feiras anual, e mais tarde, quinzenal. Por se encontrar implantado numa zona baixa e por os terrenos e ruas contíguas lhe estarem num plano superior era, todos os anos, vítima das inundações do Rio Mondego, que causavam estragos, por vezes, irreparáveis.
Na sequência do vasto movimento de reforma das instituições de assistência, levado a cabo pelo poder régio, surgiu a Misericórdia de Lisboa, fundada em 1498, pela Rainha D. Leonor.
Seria naturalmente, pela mão régia que, 48 anos após a criação da Misericórdia de Lisboa, e satisfazendo um antigo desejo da Coroa de que, em todas as terras do Reino, fosse criada uma confraria que teria a mesma invocação e seguindo os mesmos estatutos da Misericórdia – mãe de Lisboa, a vila de Montemor-o-Velho viu nascer a sua Santa Casa da Misericórdia. Embora desconheçamos a data exacta da criação da Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho, é de crer que a mesma se tenha constituído durante o ano de 1546[1].
Situada em plano baixo, antigamente sujeita às inundações do Mondego, tem no flanco direito a casa do despacho e à esquerda arrumos. Apresenta planta de nave única, a capela-mor tem abóbada de pedra, curva, dividida em quartelas, mas desadornadas. O tecto do corpo é de madeira, em caixotões, que poderão ser já do século XVIII. O pavimento é lajeado em muitas das pedras observam-se inscrições sepulcrais dos irmãos da Misericórdia, benfeitores e indigentes ali sepultados.
Este templo possui três retábulos: o principal, da renascença decadente de finais do século XVI, composto por duas ordens de baixos-relevos: inferiormente, a Visitação de Nossa Senhora à prima Isabel entre a Anunciação do Anjo a Nossa Senhora e o Nascimento do Menino Jesus (Presépio); na parte de cima, Nossa Senhora da Misericórdia, acompanhada da Circuncisão do Menino Jesus e a Adoração dos Reis Magos; a mesa do altar é setecentista e forma nicho, encerrando a Deposição do Senhor Morto no túmulo, velado por Nossa Senhora, São João, Marias (Salomé e Madalena) e Verónica, numa cena silenciosa e lacrimejante, da mesma época do retábulo.
O altar colateral do Evangelho, Oração no Horto, da mesma época do principal, é formado por um arco entre colunas e encerra um retábulo representando a Agonia ou Oração do Senhor no Horto. O altar do lado oposto tem as mesmas características, representando a Deposição de Nosso Senhor no Sepulcro.
Abre-se na parede da Epístola a Tribuna dos Mesários, de colunas jónicas em pedestais e entablamento direito, dos finais do século XVII. Possui ainda um coro lateral apoiado em colunas simples, cujas janelas são do século XVIII. O púlpito, provavelmente do século XVII, assenta em duas mísulas e tem grades torneadas, de madeira. A capela-mor e o corpo da igreja revestem-se de azulejos de enxaquetado, do século XVII, de losetas azuis e brancas. A sua fachada é modesta, no entanto, apresenta na edícula um baixo relevo, em calcário de Ançã, representando Nossa Senhora das Misericórdias, de qualidade superior aos retábulos, datada de 1540 (provavelmente reaproveitada): assente sobre um plinto, encontra-se de mãos postas e de manto aberto, elegantemente sustentado por dois anjos, abraçando as várias figuras civis e eclesiásticas que, prostradas a seus pés e genuflectidas, se encontram em atitude de profunda veneração (à direita da Virgem um papa, um cardeal, um bispo e outros dois dignatários da igreja; à esquerda os representantes da nobreza, em que se evidenciam um imperador, um monarca e três membros da fidalguia. A ladeá-la estão as duas janelas setecentistas, ao gosto barroco, que iluminam o coro alto e a nave. É encimada por um triângulo, no qual figura o Padre Eterno. O portal é de arco entre pilastras jónicas e entablamento, todo desadornado, com porta de madeira de castanho almofadada. Neste inseriram um escudo nacional setecentista. Delimitada lateralmente, no prolongamento dos cunhais de cantaria, por duas esferas, a empena do frontespício é rematada por uma elegante cruz latina assente sobre pedestal, tudo em cantaria (aqui colocada em 1739, da lavra de José Coelho, de Santo Varão).
A anteceder a frontaria da igreja, em plano inferior ao da estrada, emerge um adro em lajeado que, limitado por um muro (sobre este assenta um degrau de pedra lavrada com gradeamento de ferro forjado, entremeado por nove pequenas colunas em cantaria) se abre para o exterior através de cinco degraus que dão acesso a um pequeno portão, também em ferro forjado, que fica em frente à porta principal do edifício.
Seguindo pela Rua Dr. José Galvão, poderá o viajante demorar-se a apreciar o Teatro Esther de Carvalho que remonta à segunda metade do século XIX, 1882, e que resultou da adaptação da Capela da Confraria dos Clérigos de S. Pedro, designando-se Teatro Infante D. Manuel. Em 1884 passou a designar-se por Teatro Esther de Carvalho, perdendo a anterior designação de Infante D. Manuel. Em 1900, uma Comissão presidida por Bernardo Gonçalves Ferreira mandou reedificar o teatro, cujas obras foram dirigidas por Benedito Galvão de Carvalho. A 27 de Dezembro de 1903, foi inaugurado com a peça Filho da República, levada a cena por um grupo de amadores. Em 1908, tinha, segundo Sousa Bastos, um rendimento de 108$000 réis e uma despesa por récita de 6$000 réis, a iluminação era realizada a acetilene e a sala dispunha de 13 camarotes, balcão e plateia de 206 lugares. Até 1912 sofreu diversas obras.
Em 1998, encontrando-se em mau estado de conservação, surgiu um projecto de reabilitação, da autoria do Arquitecto José António Bandeirinha, propondo o restauro integral do edifício, com a preservação das estruturas de madeira originais. Estão previstas três utilizações principais para este edifício: para actividades destinadas à comunidade e acontecimentos significativos do concelho; espaço para trabalhos e acções dirigidas à população escolar do município; e acolhimento de companhias teatrais em residência artística.
Na década de 1990 o edifício foi distinguido no Concurso Património Arquitectónico Europeu Edifícios e Locais Históricos relacionados com as artes do espectáculo, promovido pela Comissão Europeia; galardoado com o primeiro prémio no concurso Apoio para Recuperação e Valorização do Património Artístico, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Está classificado como Imóvel de Interesse Público por Despacho de Março de 1983, Decreto n.º 67/97, DR 301, de 31 Dezembro 1997.
O Teatro Esther de Carvalho, assume-se actualmente como um espaço singular de programação cultural na Vila de Montemor-o-Velho. O CITEC - Centro de Iniciação Teatral Esther de Carvalho, entidade que tutela o este espaço, foi fundado a 25 de Julho de 1970. Durante quase 34 anos de actividade, esta associação produziu mais de trinta criações teatrais, organizou 26 edições do Citemor, 30 estágios de formação, entre outras acções. Possui o estatuto de utilidade pública e em 1998 foi distinguida por Sua Excelência o Presidente da República, com o título de Membro Honorário da Ordem de Mérito.
O Citemor, que em 2004 cumpriu a sua XXVI edição é o mais antigo festival de teatro do país. A sua história está ligada à do grupo, seu impulsionador — o CITEC, Centro de Iniciação Teatral Esther de Carvalho. Fundado em 1970, o CITEC organizou uma primeira Semana de Teatro em 1974, passando, no ano seguinte, a Festival. Estas duas iniciativas, lançaram a ideia de uma intervenção regular que, apesar de alguns anos de paragem, acabou por vingar, sendo hoje uma referência no quadro das artes do espectáculo em Portugal.
Ao longo da sua existência, o Citemor foi propondo diferentes figurinos, ditados, sobretudo, pela procura constante de um maior relacionamento com a região em que se insere.
Ao fundo da Rua José Galvão, avista-se o Convento de Nossa Senhora dos Anjos, classificado como Monumento Nacional, por Dec. 16 Junho 1910, DG 136 23 Junho 1910 e Dec. n.º 26 461, DG 71 de 26 Março 1936 (Igreja e claustro). As fontes são unânimes ao declararem que esta casa conventual teve a sua origem numa pequena ermida pertencente a Diogo da Azambuja. Em 1494, o Papa Alexandre VI passou o breve da fundação do Convento dos frades eremitas de Santo Agostinho calçados ou gracianos, sendo o seu principal impulsionador Diogo da Azambuja.
As obras foram lentas, sendo a igreja a primeira a ser construída: nos primeiros anos de quinhentos estava já embutida na parede do lado da Epístola a arca funerária dos Cotas, datada de 1504, o que significa que a parede sul da igreja se achava concluída nesta altura. O mesmo se pode dizer da sua frontaria cujo cunhal foi deixado à vista durante as obras de conservação dos anos 30 do século XX. Em 1511, estava concluída a capela-mor, a expensas de Diogo da Azambuja. Pela mesma altura, deve ter-se acabado a sacristia cujo tecto, nos finais do século, foi coberto com os interessantes frescos que ainda hoje se mantém. Contemporânea da capela-mor e da sacristia é a torre sineira. Em 1514, já o convento se achava bem implantado em Montemor-o-Velho. Entre 1514 e 1518, rasgou-se, na parede que separa a sacristia da capela-mor, o magnífico túmulo de Diogo da Azambuja, que viria a falecer a 15 de Agosto de
Em 1535, os Pinas instituíram a sua capela funerária na parede sul da igreja. E, anos depois, em 1567, fez-se para a capela-mor um bom e grandioso retábulo de que subsiste o sacrário. No entanto, surgem notícias de que a 11 de Abril de 1572 o convento sofria grandes obras, excluindo a igreja. Outras obras foram ainda realizadas no final do século XVI: em 1591, foi feita a Capela da Anunciação, de Mateus Roiz, denotando já uma gramática maneirista; data de 1593 o altar do Espírito Santo (tratava-se provavelmente de um retábulo situado no lado do Evangelho do arco triunfal da capela-mor); a sacristia terá também sofrido algumas reformas. As intervenções do século XVII modificaram alguns dos aspectos arquitectónicos da igreja e desvirtuaram muito a sua traça, prejudicando mesmo, em alguns casos, as obras já existentes. Substituiu-se o tecto da nave, inicialmente de madeira, sendo alteado através de abóbadas de arestas em tijolo dispostos em três tramos. Para isso robusteceram-se as paredes, através de fortes pilastras em função de contrafortes internos, alteração que veio causar algum desequilíbrio a toda a nave e a prejudicar não só o púlpito, devido à inclusão de um contraforte por cima daquele, mas igualmente o arco triunfal da Capela das Almas, erigido neste século, em 1622, ficando com uma das suas pilastras laterais, semi-encoberta pela sobreposição da base do púlpito. A par destas alterações realizou-se, ainda, a construção do coro-alto da igreja e, pelas últimas décadas de seiscentos, era aposta na Capela dos Pinas a lápide relatando os infortúnios de D. Margarida de Melo e Pina.
No século XVIII, operaram-se novas reformas. Na parede do altar-mor foi pintado um grande retábulo fingido, de que hoje apenas restam fragmentos e, já para os finais do século, foram introduzidos nas outras paredes da capela-mor azulejos historiados com cenas da Vida da Virgem, cujo rasto se perdeu. O túmulo do fundador foi retirado do seu local primitivo e colocado a um canto. Também o altar quinhentista foi substituído por outro, de madeira, no seguimento do estilo utilizado
Em 1834, o convento foi extinto, sendo alienados, dispersos ou abandonados os seus bens móveis e imóveis. Só em 1933 é que a D.G.E.M.N. dá início ao seu louvável empreendimento de recuperação.
O edifício apresenta planta composta pela igreja, sacristia, cozinha, refeitório, claustro, sala do capítulo, celas, portaria e outras dependências. A igreja é de planta longitudinal, uma nave, coro-alto e capela-mor. A fachada principal apresenta porta rectangular entre pilastras, sobrepujada de frontão interrompido por nicho e sobre janela do coro e remate em cornija com cachorros e gárgulas. À esquerda desenvolve-se o claustro e outras dependências. No interior estão duas capelas de cada lado da nave que tem cobertura em abóbada de arestas. Um arco cruzeiro dá acesso à capela-mor, rectangular, de contrafortes angulares e um a meio da parede do topo e outro na da Epístola. Esta é coberta por abóbada de um tramo estrelada, com arcos cruzeiros, cadernas e terceletes. Das cinco chaves sobressai a central onde campeiam as armas de Diogo da Azambuja. Dois outros fechos contêm ao meio uma cruz de Avis, merecendo especial realce a que é debruada por dois pergaminhos desenrolados onde se lê uma inscrição. Apresenta duas janelas com mainel do lado da Epístola.
Do lado do Evangelho surge o túmulo de Diogo de Azambuja. À esquerda do túmulo, situa-se uma porta manuelina que dá acesso à sacristia. Do lado do Evangelho: Capela do Sacramento, Capela das Almas. Do lado da Epístola: Capela dos Cotas, Capela da Anunciação e a capela da Deposição ou da Piedade.
O claustro é de planta quadrada, de dois andares, com contrafortes quadrados e dois arcos em asa de cesto apoiados em colunas dóricas entre eles no piso térreo e portas no piso superior. Este, datado de finais do século XVI, está dividido em dois pisos, abrindo o inferior em arcaria para o pátio central, onde se ergue no centro o fontenário, alimentado por uma linha de água. Para o claustro comunicam, numa tradição ainda medieval, as dependências colectivas, como a própria igreja, portaria, Sala do Capítulo e o refeitório e, através deste, a copa e a cozinha. A Sala do Capítulo e o refeitório, salas de dimensões harmoniosas, apresentam ainda nos seus portais cantarias que lhes conferem alguma dignidade.
[1] Mário José da Costa Silva – A Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho. Espaço de sociabilidade, poder e conflito (1546-1803), p. 26.
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